
Deu medo. No início do fim a sensação era medo.
Ela estava certa de que era uma questão de tempo. E ponto.
No início do fim ela pensava em tudo o que deixaria de ter. Ele era seu tudo.
Dormiam. Acordavam. Viajavam. Faziam planos. Beijos. Sexo. Briguinhas bobas. As refeições. Os segredos. As corridas. Tudo. No mesmo lugar. Com a mesma pessoa. Todo dia.
Era ele chegar e o coração sempre disparava, como se fosse o 1° encontro.
Avassalador. Dominador. Sem saídas. Aquilo talvez seja o que chamam de amor!
Por anos foi assim. Seus olhos azuis, sua alva pele. Sua voz. Seu toque. O cuidado. A certeza de sempre querer.
Do meio pro fim perderam a rota. O toque cessou. O beijo era nunca. Olho no olho não mais. Presenças escassas. O tom da voz alterou. O sexo acabou. E então esfriou.
Tinham as respostas. Sabiam os porquês. Por fim terminou.
Anos a fio se passaram e ela focou em si. No trabalho. Na carreira. Nos treinos. Nos estudos. Em si. Só em si.
No fundo, bem no fundo, ele continuava ali, em um lugarzinho que ela o colocou. Pra não esquecer. Pra sempre lembrar. Até pra doer. Às vezes chorar. O que é o poeta sem dor?
Atitude tola talvez. Assim administrou.
Algumas músicas faziam-na lembrar. A música deles e outras também.
Chegou a pensar que nunca, nunca mais iria amar.
Que espécie de cérebro é esse? Tão fatalista que diz que algo não pode mudar?!
Sei la, ela não queria se permitir, pra não viver tudo outra vez. Perder o controle, não ter o domínio. Melhor não complicar. Deixa estar.
Quatro anos passaram-se desde o fim. Ela não teve ninguém, mas não se arrepende, ao contrário, viveu intensamente.
Nunca leu tanto. Nunca treinou tanto. Nunca viajou tanto. Nunca meditou tanto.
Conhece seu corpo como a palma das mãos e seus sentimentos estão acalmados.
Hoje encontra-se preparada para viver qualquer história. Seja de um amor de 24 horas, seja amor de carnaval ou um amor sem prazos.
Hoje ela quer apenas comemorar. Passou. Tirou as algemas, abriu as comportas de onde ele estava a habitar.
Hoje quer pintar as unhas de vermelho, vestir um jeans e sair por aí, beber um café sem pressa, ler seus livros e respirar outros ares. Na própria companhia ou com alguém que saiba voar.
Hoje não quer fazer planos, nem se arrepender do que não fez. Ela não quer ter as respostas. Quer sentir, viver e deixar Ser.
Amanhã a gente vê.